Estudo aponta que quase metade das mulheres no Brasil sofre com insônia

Alterações hormonais, acúmulo de tarefas e fatores emocionais explicam o alto índice de distúrbios do sono entre mulheres, diz Drª Priscila Mageste

por Maria Eduarda

Sul Fluminense

Um estudo da Fiocruz revela que 41,84% das mulheres brasileiras relatam dificuldades para dormir. O dado chama atenção por indicar uma prevalência maior do que entre os homens e por refletir uma sobrecarga física e emocional que tem afetado a saúde feminina em diferentes fases da vida. Os dados foram levantados por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS)

De acordo com a médica do sono Priscila Mageste, formada pela Universidade de São Paulo (USP) e neurologista pela Universidade Federal Fluminense (UFF), fatores hormonais, psicológicos e sociais estão entre as principais causas. “A insônia pode afetar as mulheres devido a fatores hormonais do ciclo menstrual, gravidez, pós-parto e menopausa”, explica. “Mulheres na menopausa ainda têm mais chances de ter insônia quando comparadas às que estão fora dessa fase. Além disso, há uma maior prevalência de ansiedade e depressão, que são patologias que podem ocasionar insônia. A própria rotina e responsabilidades também influenciam.”

A médica, que é vice-coordenadora do Departamento Científico de Neurologia do Sono da Associação de Neurologia do Estado do Rio de Janeiro (ANERJ), afirma que a menopausa é o período da vida com maior incidência do problema, podendo aumentar em até 50%. “Isso ocorre devido à grande variação hormonal, com redução dos hormônios. As ondas de calor — os chamados fogachos — também podem ocorrer durante a noite, dificultando iniciar e manter o sono. A ansiedade e a depressão, que tendem a ser mais comuns nessa fase, agravam o quadro.”

 

Priscila observa que os fatores emocionais têm influência direta sobre o descanso. “A ansiedade deixa a pessoa em estado de alerta, dificultando iniciar o sono e provocando despertares noturnos ou acordar antes do horário desejado. Já a depressão pode vir acompanhada por sonolência excessiva”, explica. A médica especialista acrescenta que um dia agitado e repleto de preocupações indica, em muitos casos, dificuldade para desacelerar e cair no sono no período da noite. Por outro lado, notícias positivas, como ser aprovado em uma prova, podem alterar o sono. “Muitas pessoas acham que só fatores ruins interferem, mas momentos felizes também podem impactar o descanso”, diz Mageste.

Os efeitos da insônia, segundo a especialista, vão muito além do cansaço. “Ela interfere acentuadamente na saúde física, mental e na rotina das pacientes. Pessoas podem ficar mais sonolentas e irritadas, com dificuldade de concentração e resposta menos ágil a estímulos”, diz.

A insônia também está relacionada a maior risco cardiovascular, resistência insulínica, preferência por alimentos gordurosos e desregulação hormonal — afetando hormônios da saciedade, do estresse, sexuais e a melatonina. “O sono ruim compromete a produção de anticorpos, aumenta a dor de cabeça e, a longo prazo, pode elevar o risco de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer.”

 

Especialistas reforçam que o sono de qualidade é um dos pilares fundamentais da saúde, ao lado da alimentação equilibrada e da atividade física. No caso das mulheres, compreender as mudanças hormonais e o impacto emocional ao longo das diferentes fases da vida é essencial para buscar ajuda médica quando necessário. Segundo a médica Priscila Mageste, tratar a insônia não é apenas dormir melhor, mas também recuperar energia, bem-estar e equilíbrio para enfrentar o cotidiano com mais saúde e clareza mental.

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