O excesso de estímulos e o ritmo acelerado estão roubando das crianças algo essencial: o tempo de viver a infância

Neuropsicóloga alerta que a infância está sendo encurtada por uma rotina hiperestimulante e pela pressão para que as crianças ajam como adultos antes da hora.

por Isadora Ferreira

Há alguns anos, era comum ver crianças brincando nas ruas, com bonecas, carrinhos e pedras que viravam tesouros imaginários. Hoje, essas cenas são cada vez mais raras. As brincadeiras deram lugar às telas, os jogos livres foram substituídos por compromissos e, antes mesmo dos dez anos, muitos pequenos já falam sobre temas do mundo adulto.

A neuropsicóloga Gabrielle Werneck faz um alerta: a infância está acabando mais cedo, e poucos percebem. “O cérebro infantil precisa de tempo, repetição e experiências concretas para amadurecer. É brincando, explorando o mundo real e até sentindo tédio que as conexões neurais se fortalecem”, explica.

Segundo Werneck, o excesso de estímulos e a sobrecarga de atividades estão levando as crianças a um estado de hiperestimulação: o cérebro recebe muito, mas processa pouco. “Isso gera ansiedade, irritabilidade, impulsividade e dificuldade de concentração, sintomas cada vez mais comuns na infância moderna”, afirma.

Além da sobrecarga cognitiva, há outro fenômeno silencioso, crianças se tornando adultos antes da hora. “As crianças estão sendo expostas a responsabilidades e pressões que pertencem ao universo adulto. Muitas se cobram por desempenho, aparência e resultados, e sentem culpa por errar ou vergonha por simplesmente serem crianças”, observa Werneck.

A especialista ressalta que a infância não é apenas uma etapa da vida, mas a base sobre a qual todo o desenvolvimento humano se constrói. Quando uma criança deixa de viver plenamente essa fase, as consequências aparecem mais tarde, na forma de insegurança emocional, dificuldades de aprendizagem e até transtornos de ansiedade.

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