A duas semanas do Natal, já está claro que a ceia deste ano não é feita apenas de receitas. Ela é feita de escolhas, encontros e do desejo de transformar a mesa em um espaço mais afetuoso e menos tenso do que tantas reuniões familiares marcadas por embates, opiniões rígidas e silêncios desconfortáveis. O que se come, quem se senta, por que esse ritual importa e como ele dialoga com o mundo atual moldam o cardápio de 2025.
Para quem lê o Diário Delas, é familiar a ideia de transitar entre o factual, a sociedade e as tendências. Esta matéria segue outro caminho: funciona como um menu completo, dividido em entrada, prato principal e sobremesa, onde cada etapa apresenta o que está em alta nas grandes revistas, nas cozinhas brasileiras, nas redes e nas conversas contemporâneas sobre afeto, convivência e igualdade. O Natal toma outra forma, e a comida acompanha essa mudança.
ENTRADA – A mesa como convite ao encontro
As entradas da ceia refletem o espírito das festas deste ano: estética, praticidade e, sobretudo, acolhimento. As tábuas temáticas em formato de árvore ou guirlanda, que se espalharam em revistas internacionais e perfis de gastronomia, expressam um desejo de partilha. Não existe prato individual nem hierarquia do que é mais importante. Todos têm acesso, todos se servem, todos circulam.
A lógica da comida compartilhada ajuda a dissolver fronteiras sociais, afetivas e até tensões familiares. A ceia tem sido, por muito tempo, um território onde diferenças raciais, de orientação sexual, de classe e de gerações se chocam. Em 2025, a tendência é transformar esse espaço. Não há didatismo nem discurso explícito, mas há uma mensagem simples: a mesa que se abre para todos é mais bonita que a mesa que exclui. E, discretamente, isso se expressa nos cardápios flexíveis, que pensam também em vegetarianos, veganos, intolerantes e em quem prefere opções mais leves.
Pães artesanais, focaccias, pastinhas coloridas, mini bruschettas, mini saladas cítricas e o panetone salgado servem de abertura para um jantar que privilegia a conversa e dá tempo para que todos, independentemente de quem sejam, possam se sentir parte daquele momento.

PRATO PRINCIPAL – Tradição revisitada com novas sensibilidades
Os pratos principais da ceia mantêm os clássicos, mas apresentam novas leituras. Peru, tender e pernil continuam no centro da mesa, mas ganham versões com pistache, nozes, mel, romã, bulgur, que é um cereal à base de trigo, ervas frescas e molhos cítricos. Essa mistura entre tradição e contemporaneidade tem menos a ver com moda e mais com o gesto de reinterpretar uma celebração.
A tendência internacional aponta para menus mais leves, com menos gordura, mais legumes assados e acompanhamentos que privilegiam textura e frescor. Farofas com frutas secas, arroz com amêndoas, batatas gratinadas, saladas de grãos e vegetais tostados aparecem não como substitutos, mas como complementares.
A ideia de inclusão se materializa de forma natural. Os pratos veganos e vegetarianos, podem e devem ser incorporados de forma orgânica e sutil. Em mesas onde por décadas o diferente era alvo de piada, de desconforto ou de correção moral, nasce agora um movimento silencioso, mas poderoso: preparar o jantar pensando que todos merecem comer bem e se sentir confortáveis. A comida rearranja o ambiente e, quando bem pensada, tem o poder de diminuir distâncias.

SOBREMESA – Afeto, estética e um final que celebra pertencimento
O encerramento da ceia traz a mistura de memória e novidade que marca este Natal. A rabanada continua imbatível, mas ganha versões assadas, cítricas, caramelizadas ou feitas com açúcar mascavo. Pavês e pudins seguem firmes, enquanto sobremesas em formato de pequenas porções se popularizam, como tacinhas de chocolate com pistache, mini pavlovas e dips doces inspirados em tortas internacionais.
O que chama atenção, porém, é a estética da sobremesa brasileira contemporânea, que valoriza ingredientes locais e histórias pessoais. Cocada mole ao lado de frutas frescas, caldas de manga ou maracujá sobre preparos clássicos, bolos úmidos com castanhas-regionais. Há um desejo de pertencimento e de reconhecimento da diversidade do país como parte natural da mesa.

No entanto, essa construção estética é também política, ainda que discreta. Uma ceia que valoriza sabores brasileiros, que mistura referências e que não recusa ninguém é a antítese das reuniões marcadas por comentários preconceituosos ou tensões veladas. Não é preciso dizer que é cafona ser racista ou homofóbico: basta observar como as mesas mais bonitas são aquelas onde cada pessoa é bem-vinda. A culinária de 2025 entende isso com mais maturidade do que muitos discursos.
Um natal afetivo também cabe no orçamento
Para quem está com orçamento apertado, o cenário deste ano é especialmente favorável. A tendência das tábuas compartilhadas e dos pratos coletivos diminui custos sem comprometer a beleza da apresentação. Entradas leves com legumes assados, focaccias caseiras, saladas de repolho, frango assado com ervas, arroz com lentilhas e rabanada compõem uma ceia completa, elegante e acessível.
O bom gosto não depende de ingredientes caros, mas de intenção, cuidado e harmonia.
A mesa que reflete quem somos, cozinhar para alguém é uma forma de acolhimento e que abrir espaço para todos é mais bonito, mais contemporâneo e verdadeiro do que repetir rituais que já não conversam com o presente.
As ceias deste ano traduzem um país que busca convivência, afeto e reconhecimento, mesmo em ambientes onde antes prevaleciam as tensões familiares. A comida ajuda a reorganizar essa paisagem. Entre receitas antigas e novas influências, a mesa se transforma em um território menos rígido e mais humano, onde cada gesto, cada prato e cada escolha dizem, sem precisar explicar: aqui, todo mundo cabe.
RECEITAS SELECIONADAS
| Salmão ao Mel, Mostarda e Crosta de Pistache
Ingredientes: 1 peça ou 4 filés de salmão Sal e pimenta Suco de 1/2 limão 2 colheres (sopa) de mel 2 colheres (sopa) de mostarda Dijon 1 colher (sopa) de manteiga derretida 1/2 xícara de pistache picado grosseiramente Azeite para finalizar Preparo: Tempere o salmão com sal, pimenta e limão e deixe descansar por 10 minutos. Misture o mel, a mostarda e a manteiga até formar um molho uniforme. Espalhe sobre o salmão e cubra com o pistache, pressionando para formar a crosta. Leve ao forno preaquecido a 200 ºC por 12 a 15 minutos. Finalize com azeite. |
| Frango Assado com Manteiga de Ervas e Limão
Ingredientes: 1 frango inteiro ou coxa e sobrecoxa 3 colheres (sopa) de manteiga 3 dentes de alho amassados 1 colher (chá) de páprica doce Ervas a gosto (alecrim, tomilho ou salsinha) Suco de 1 limão Sal e pimenta Batatas cortadas (opcional) Preparo: Misture a manteiga, o alho, as ervas, a páprica, o sal, a pimenta e o limão até formar uma pasta. Passe por toda a superfície do frango, inclusive sob a pele. Coloque em assadeira, acrescente as batatas se desejar e asse a 200 ºC por cerca de 1 hora e 20 minutos, regando com o próprio caldo na metade do tempo. Sirva dourado e suculento. |
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