Projeto capacita mulheres e meninas a reconhecer sinais de violência antes da agressão

Iniciativa criada em Brasília aposta em prevenção e educação para romper ciclos de abuso

por Maria Eduarda

Vanessa Ribeiro, especialista em segurança e defesa pessoal para mulheres, natural de Niterói (RJ) e formada em Israel, transformou sua atuação profissional em uma resposta direta à violência cotidiana sofrida por mulheres e meninas. Atuando em diferentes regiões do Brasil e também na África, ela desenvolveu cartilhas e projetos de prevenção que hoje ganham ainda mais relevância diante do avanço dos casos de agressão no país.

A pergunta que guia o trabalho da especialista Vanessa Ribeiro é direta e desconfortável: por que o Brasil reage à violência contra a mulher apenas quando ela já aconteceu? Especialista em segurança e defesa pessoal, Vanessa Ribeiro chegou a Brasília em busca de cumprir sua missão, sem conhecer ninguém, mas com uma convicção: atuar na raiz do problema.

“Eu estava ganhando dinheiro, a academia estava funcionando, mas essa voz começou a me dizer: como é que você chega às mulheres que não podem pagar por uma aula? Como você chega às mulheres que estão em situação de violência e não conseguem nem sair de casa?”, relembra.

Do incômodo pessoal nasceu o projeto Defesa das Mulheres, uma iniciativa que atua na educação preventiva e na formação em segurança, tanto no ambiente doméstico quanto no urbano. O método prioriza informação e encorajamento, sem recorrer ao medo ou à exposição da violência como espetáculo. O objetivo é claro: ensinar mulheres a reconhecer sinais de risco antes que a agressão se concretize.

 

 

“Não existe cara de agressor. Ele pode ser seu professor, seu namorado, alguém da sua família”,

afirma. Por isso, segundo ela, o foco não está em aparência, mas em comportamento. “O que mostramos são as bandeiras vermelhas que aparecem ao longo de um relacionamento.”

 

Cartilha que chega antes da violência

Um dos principais instrumentos do projeto é a Cartilha de Prevenção à Violência contra Meninas e Mulheres, desenvolvida por Vanessa Ribeiro e hoje distribuída pelo Ministério das Mulheres e pela Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal.

A publicação é utilizada nas atividades do projeto em diferentes regiões, especialmente em escolas e comunidades, com foco em meninas entre 15 e 16 anos que estão iniciando os primeiros relacionamentos e conquistando maior autonomia de circulação.

“Eu consigo explicar para elas atitudes que parecem normais, mas não são seguras: encontros marcados por aplicativos, confiança rápida demais, exposição em redes sociais”, relata.

Para a especialista, a cartilha não ensina medo, mas consciência. “A gente quer despertar o bichinho da segurança.”

 

Educação como saída de longo prazo

O trabalho em escolas revelou outra urgência: falar sobre proteção com crianças. Dessa demanda nasceu o projeto ‘Escola Segura, Vida Segura’, dedicado a estudantes de 6 a 14 anos.

A iniciativa reúne livros pedagógicos, material online e formação para professores. O conteúdo aborda, conforme a faixa etária, segurança emocional, violência física, bullying, assédio e importunação.

“Não é só a criança que aprende. A gente capacita o professor para reconhecer sinais e agir”, explica. Para ela, a educação é o caminho mais consistente para romper ciclos de violência. “Uma criança que aprende a identificar situações de risco cresce sabendo se proteger. Isso muda histórias.”

Ela também chama atenção para o impacto indireto da violência contra a mulher. “Quando ocorre um feminicídio, em média duas crianças se tornam vítimas secundárias.” Em muitos casos, essas crianças passam a ser criadas pela família do agressor. “Crescem ouvindo que a mãe foi culpada. É uma distorção que perpetua a violência.”

Hoje, o Defesa das Mulheres é apresentado a gestores públicos como um programa completo, que vai além da entrega de material. “Não é só conteúdo. É formação, é metodologia, é acompanhamento.”

A partir de janeiro, Vanessa Ribeiro passa a expandir o projeto para o setor corporativo em São Paulo, com foco na proteção de colaboradoras e na prevenção à violência no ambiente de trabalho.

A ideia que sustenta todo o trabalho permanece a mesma desde o início: a violência precisa ser combatida antes de acontecer.

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