Sul Fluminense
Sempre soube que queria ser mãe. Era um sonho que morava dentro de mim desde a infância e me fazia envolver a maternidade em todas as brincadeiras feitas no quintal de casa. Cada mulher com um bebê no colo que atravessava meu caminho fazia meus olhos brilharem e meu coração bater ainda mais forte. Eu suspirava baixinho para Deus: um dia, será a minha vez de ser mãe. Eu não sabia exatamente o que me esperava, mas tinha certeza de que, um dia, aquela história também seria minha.
Mas o caminho entre o sonho e a realização foi mais tortuoso do que imaginei. Um dia, finalmente, o teste deu positivo. Chorei, sorri, tremi. Era o começo do que eu acreditava ser o capítulo mais bonito da minha vida. Preparei uma surpresa para o meu marido, que vibrou comigo o início do capítulo mais bonito da nossa história. Contamos para os familiares mais próximos, e a celebração era linda de se ver.
Quando o coração para o mundo também para
Só que, poucas semanas depois, aquele coraçãozinho tão pequeno, que mal havia começado a bater, parou. E o meu coração partiu junto. A dor da perda gestacional é silenciosa, às vezes solitária, mas é imensa. Dói fundo, mesmo quando o mundo insiste em minimizar, mesmo quando dizem: “era muito pequeno ainda” ou “você é nova, vai tentar de novo”.
Só quem já perdeu um bebê, independente do tempo gestacional, sabe o peso do silêncio que fica. Não era “só um embrião”. Era meu filho. Era o início do meu sonho. Enterrar esse sonho — ainda que por um tempo — me fez questionar meu corpo, minha fé, minha capacidade de seguir em frente. Mas eu segui. E decidi tentar de novo, com medo e coragem dividindo espaço no mesmo peito.
Entre esperas, tentativas e fé
O tempo foi passando e o novo positivo não chegava. Alimentação saudável, exercícios físicos, terapias, chás naturais, consultas com especialistas, remédio para ovulação… O que está acontecendo? Será um castigo divino? Por que comigo? Foram tantos questionamentos, crises e noites sem dormir.
Meses depois, veio o novo positivo. Veio com lágrimas, mas também com uma alegria e amor que eu nem sabia que existiam em mim. Veio também com uma profunda solidariedade a todos os casais que enfrentam esse caminho tão doloroso da espera e inúmeras tentativas. Durante toda a gestação, carreguei o Felipe com um misto de gratidão e apreensão. Cada ultrassom era uma vitória, cada movimento dele era um milagre. E então ele chegou. E, com ele, eu renasci. A minha tão sonhada família, finalmente, aconteceu!
O puerpério e o nascimento de uma nova mulher
O puerpério não foi fácil. Ele atravessa qualquer mulher física, emocional e mentalmente. Ninguém prepara a gente para a intensidade das noites em claro, para o corpo exausto, para a avalanche hormonal que parece engolir quem a gente era antes. É um luto pela mulher que fomos e o nascimento da mãe que estamos nos tornando — tudo ao mesmo tempo. O amor pelo filho é indiscutível, incontrolável, mas não extingue completamente as dores. Uma coisa não anula a outra.
Em cada etapa dessa travessia, tive ao meu lado um companheiro que escolheu estar presente de verdade. A presença do meu marido fez toda a diferença: no silêncio da dor, na espera das tentativas, nas consultas, nas noites de incerteza, e agora, nas madrugadas em claro com o Felipe no colo. A paternidade dele também nasceu ali, junto com a minha maternidade. E saber que o amor que nos une também sustenta o nosso filho é uma das maiores forças que carrego.
A maternidade não me tirou de mim — me reconfigurou
Hoje, escrevo como mãe. Uma mãe que perdeu, que sonhou, que esperou, que chorou, que amou desde antes do primeiro choro do filho. E que segue amando, mesmo sem dormir, mesmo sem tempo, mesmo ainda tentando se reconhecer no espelho. Porque a maternidade não me tirou de mim. Ela só me reconfigurou. E essa nova versão de mim é mais forte, mais sensível, mais inteira.
A maternidade é dor e delícia. É ausência e plenitude. É desafio e transcendência. Mas, acima de tudo, é amor. Um amor que não cabe em palavras — mas que a gente tenta escrever, porque transborda.
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