O amor que transforma a gente

Reflexões sinceras de uma mãe de primeira viagem sobre todas as mudanças da maternidade

por rayla peixoto

Sul Fluminense

Sempre soube que queria ser mãe. Era um sonho que morava dentro de mim desde a infância e me fazia envolver a maternidade em todas as brincadeiras feitas no quintal de casa. Cada mulher com um bebê no colo que atravessava meu caminho fazia meus olhos brilharem e meu coração bater ainda mais forte. Eu suspirava baixinho para Deus: um dia, será a minha vez de ser mãe. Eu não sabia exatamente o que me esperava, mas tinha certeza de que, um dia, aquela história também seria minha.

Mas o caminho entre o sonho e a realização foi mais tortuoso do que imaginei. Um dia, finalmente, o teste deu positivo. Chorei, sorri, tremi. Era o começo do que eu acreditava ser o capítulo mais bonito da minha vida. Preparei uma surpresa para o meu marido, que vibrou comigo o início do capítulo mais bonito da nossa história. Contamos para os familiares mais próximos, e a celebração era linda de se ver.

 

Quando o coração para o mundo também para

Só que, poucas semanas depois, aquele coraçãozinho tão pequeno, que mal havia começado a bater, parou. E o meu coração partiu junto. A dor da perda gestacional é silenciosa, às vezes solitária, mas é imensa. Dói fundo, mesmo quando o mundo insiste em minimizar, mesmo quando dizem: “era muito pequeno ainda” ou “você é nova, vai tentar de novo”.

Só quem já perdeu um bebê, independente do tempo gestacional, sabe o peso do silêncio que fica. Não era “só um embrião”. Era meu filho. Era o início do meu sonho. Enterrar esse sonho — ainda que por um tempo — me fez questionar meu corpo, minha fé, minha capacidade de seguir em frente. Mas eu segui. E decidi tentar de novo, com medo e coragem dividindo espaço no mesmo peito.

Entre esperas, tentativas e fé

O tempo foi passando e o novo positivo não chegava. Alimentação saudável, exercícios físicos, terapias, chás naturais, consultas com especialistas, remédio para ovulação… O que está acontecendo? Será um castigo divino? Por que comigo? Foram tantos questionamentos, crises e noites sem dormir.

Meses depois, veio o novo positivo. Veio com lágrimas, mas também com uma alegria e amor que eu nem sabia que existiam em mim. Veio também com uma profunda solidariedade a todos os casais que enfrentam esse caminho tão doloroso da espera e inúmeras tentativas. Durante toda a gestação, carreguei o Felipe com um misto de gratidão e apreensão. Cada ultrassom era uma vitória, cada movimento dele era um milagre. E então ele chegou. E, com ele, eu renasci. A minha tão sonhada família, finalmente, aconteceu!

 

 

O puerpério e o nascimento de uma nova mulher

O puerpério não foi fácil. Ele atravessa qualquer mulher física, emocional e mentalmente. Ninguém prepara a gente para a intensidade das noites em claro, para o corpo exausto, para a avalanche hormonal que parece engolir quem a gente era antes. É um luto pela mulher que fomos e o nascimento da mãe que estamos nos tornando — tudo ao mesmo tempo. O amor pelo filho é indiscutível, incontrolável, mas não extingue completamente as dores. Uma coisa não anula a outra.

Em cada etapa dessa travessia, tive ao meu lado um companheiro que escolheu estar presente de verdade. A presença do meu marido fez toda a diferença: no silêncio da dor, na espera das tentativas, nas consultas, nas noites de incerteza, e agora, nas madrugadas em claro com o Felipe no colo. A paternidade dele também nasceu ali, junto com a minha maternidade. E saber que o amor que nos une também sustenta o nosso filho é uma das maiores forças que carrego.

 

A maternidade não me tirou de mim — me reconfigurou

Hoje, escrevo como mãe. Uma mãe que perdeu, que sonhou, que esperou, que chorou, que amou desde antes do primeiro choro do filho. E que segue amando, mesmo sem dormir, mesmo sem tempo, mesmo ainda tentando se reconhecer no espelho. Porque a maternidade não me tirou de mim. Ela só me reconfigurou. E essa nova versão de mim é mais forte, mais sensível, mais inteira.

A maternidade é dor e delícia. É ausência e plenitude. É desafio e transcendência. Mas, acima de tudo, é amor. Um amor que não cabe em palavras — mas que a gente tenta escrever, porque transborda.

 

 

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