A mãe desnecessária

por rayla peixoto

  Sul Flumiensne 

Toda mãe nasce para ser no tempo certo desnecessária.
Duro, né? Se você é mãe, provavelmente pensou: “Eu nunca quero me tornar desnecessária para o meu amado filho!” Mas calma. Deixa eu te explicar essa teoria e, no fim, você me diz se concorda.

Quando eles nascem, a gente é tipo Wi-Fi: absolutamente essencial.
Se a mãe sai do cômodo, a criança perde o sinal. Ninguém mais sabe a temperatura certa do mingau, a altura exata do som da Galinha Pintadinha ou a entonação perfeita do “tá tudo bem, meu amor”.
Somos o centro do universo, o Google, o Uber, o iFood e o colo, tudo ao mesmo tempo. É cansativo? É. Mas também é glorioso. Porque, naquele caos, somos necessárias com força.

 

O tempo passa e dói um pouco

Mas aí… eles crescem.
E de repente, quem chorava porque você saiu pra tomar banho, agora tranca a porta do quarto. Quem pedia pra você ficar mais um pouquinho na beira da cama agora diz “pode ir, mãe”.

A Galinha Pintadinha vira fone de ouvido com músicas que você nem entende.
E aí começa a doer, porque ser desnecessária dói. A gente olha aquele ser humano autônomo e pensa:
“Mas ontem mesmo ele não sabia nem limpar o nariz sozinho!”

 

Crescer é também soltar (e confiar)

Deixar crescer é um ato de coragem, minha amiga.
Porque o instinto da mãe é o quê?
Embalar, alimentar, proteger e se deixar, colocar bolha de plástico em volta da criança até os 35 anos.

A gente quer tanto evitar que eles sofram que, sem perceber, sufoca.
Entra no modo Google Maps emocional: recalculando a rota da vida deles o tempo todo pra evitar qualquer buraco.

Mas se a gente não soltar aos poucos, eles viram adultos que não sabem atravessar a rua, pagar um boleto ou ouvir um “não” sem desmoronar.
E aí, em vez de criar um ser humano funcional, a gente cria um reizinho de pantufas que acha que o mundo gira em torno do seu drama.

Quando a desnecessariedade é amor

Ser desnecessária, no fundo, é um presente que a gente se dá de volta.
É sinal de que fizemos nosso trabalho direito.
Que fomos abrigo, mas não prisão.

Que cuidamos com tanto amor que eles se sentem seguros o suficiente para voar.

E, no fim, não é que a gente se torna desnecessária de verdade.
É só que o tipo de necessidade muda.

Eles não vão mais precisar que você amarre o tênis ou revise o dever de casa.
Mas vão lembrar do seu olhar quando o mundo parecer demais.
Do jeito que você ouvia, acolhia, dizia “tá tudo bem”.

Porque amor de mãe é assim: vai ficando invisível, mas nunca deixa de estar presente.
E é aí que mora a beleza de se tornar desnecessária.

 

 

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