Ficar solteira depois dos 30: liberdade ou julgamento social?

Entre a liberdade de escolher e o peso dos olhares alheios, as mulheres solteiras acima dos 30 anos seguem desafiando padrões e redescobrindo o que significa viver por si mesmas.

por rayla peixoto

Sul Fluminense

Por muito tempo, o “felizes para sempre” parecia ter um roteiro pronto: casar, ter filhos e seguir o modelo tradicional de vida em casal. Mas os novos tempos têm mostrado que esse roteiro não é mais uma regra, e nem todo mundo quer (ou precisa) segui-lo.

Ficar solteira depois dos 30, para muitas mulheres, é sinônimo de autoconhecimento, amadurecimento e liberdade.

Mas, ao mesmo tempo, ainda é um assunto cercado de olhares enviesados e comentários disfarçados de preocupação: “Você não vai casar?”, “Mas e os filhos?”, “Tá escolhendo demais?”

Essas frases revelam o quanto a autonomia feminina ainda incomoda, especialmente quando vem acompanhada de segurança e tranquilidade em estar só. A psicóloga Camila Coêlho de Souza conversou com o Diário Delas sobre esse tema.

A escolha de viver o próprio tempo

Hoje, cada vez mais mulheres escolhem colocar a si mesmas como prioridade. Investem na carreira, viajam sozinhas, constroem redes de apoio e aprendem a celebrar a própria companhia.

A solteirice, antes vista como “falta”, agora é reconhecida como escolha e, muitas vezes, como um momento de crescimento emocional e liberdade.

Mas, mesmo com essa nova mentalidade, o julgamento social ainda existe. E ele pode vir disfarçado de curiosidade ou até de “preocupação genuína”, tornando o processo de viver só um desafio silencioso para muitas mulheres.

 

“O estigma está enraizado em padrões antigos, que associavam o valor da mulher ao casamento e à maternidade. Mesmo com avanços sociais e tecnológicos, ainda há uma pressão velada sobre o ‘relógio biológico’, como se a mulher tivesse prazo de validade para realizar esses marcos”, afirma a psicóloga.

Ela acrescenta que a forma como homens e mulheres são vistos nas relações amorosas ainda revela desigualdades marcantes.

“Além disso, há uma dinâmica relacional desigual: homens 30+ costumam buscar parceiras mais jovens, enquanto mulheres solteiras nessa faixa etária são vistas como ‘exigentes demais’ por não aceitarem qualquer relação. Na verdade, com o tempo, aprendemos a valorizar mais a qualidade dos vínculos e menos a urgência de estar com alguém”, disse ela.

Camila também compartilha uma reflexão pessoal sobre como esse estigma afeta o olhar social sobre as escolhas femininas.

“A ideia de que, aos 30, perdemos o direito de escolher e devemos ‘aceitar o que vier’ é não apenas injusta, mas ultrapassada. Tenho 34 anos, estou solteira e já ouvi muitos comentários que reforçam esse tipo de pensamento. O estigma existe — mas ele diz mais sobre os padrões da sociedade do que sobre as escolhas da mulher moderna”, diz a profissional.

O peso das expectativas

A pressão social sobre o relacionamento feminino é antiga e, em muitos casos, vem de dentro da própria família. A mulher que não se encaixa no modelo esperado pode ser vista como “incompleta”, um estereótipo que ignora toda a pluralidade de caminhos possíveis.

É nesse contexto que surge um novo olhar: o de que estar solteira depois dos 30 não é um atraso, mas uma escolha legítima.

Uma forma de viver com propósito, sem se encaixar em moldes que já não fazem mais sentido.

A psicóloga Camila orienta que a melhor forma de lidar com a pressão social sobre casamento e maternidade é não se deixar guiar pelas expectativas externas,

“A melhor forma de lidar com a pressão social é simples: não se deixar guiar por ela. A sociedade sempre terá expectativas — casar, ter filhos, ter o segundo, parar no terceiro — e viver em função de agradar os outros é abrir mão da própria liberdade.
Relacionamentos não devem ser tratados como metas a cumprir, mas como escolhas conscientes. É com essa pessoa que você dividirá alegrias, desafios e construirá uma nova família. Por isso, escolha com calma, com afeto e com sabedoria”.

Ela acrescenta que o período de espera também deve ser aproveitado para o autoconhecimento e o fortalecimento pessoal.

“Enquanto essa escolha não acontece, cuide de você. Invista na sua saúde física e emocional, faça terapia se necessário, cultive momentos de lazer, fortaleça vínculos com amigos e familiares — e, acima de tudo, aprenda a apreciar sua própria companhia. Quando o parceiro chegar, que ele venha para somar, não para preencher um vazio.
A única pessoa que estará com você do início ao fim da vida é você mesma. Então, valorize, cuide e ame essa mulher que você é”, nos contou Camila.

 

Psicóloga Camila Coêlho de Souza

@camilacoelhopsi

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