Por Diário Delas
Quando pensamos na Proclamação da República, é comum lembrarmos dos nomes e das ações dos líderes militares que derrubaram o Império em 15 de novembro de 1889. No entanto, embora as mulheres não estivessem nas primeiras fileiras de combate ou nos gabinetes do novo governo republicano, sua participação, mesmo que nas margens da história oficial, foi fundamental. Elas estavam ativas em movimentos de reforma social, educação e até na produção de ideias republicanas que circulariam pela sociedade e inspirariam mudanças que se desdobrariam ao longo das décadas seguintes. O movimento republicano no Brasil começou a se estruturar décadas antes de 1889, influenciado pelo desejo de modernizar o país, abolir a escravidão e implantar uma forma de governo que trouxesse mais liberdade. Dentro desse contexto, algumas mulheres notáveis, como Nísia Floresta e Josefina Álvares de Azevedo, começaram a se destacar como vozes que defendiam não apenas o fim do regime imperial, mas também mudanças profundas na condição das mulheres e na estrutura social da época.
Uma voz de mudança: o papel das mulheres no movimento republicano
Nísia Floresta, considerada uma das primeiras feministas brasileiras, dedicou sua vida à educação das mulheres e à luta por seus direitos. Por meio de artigos e obras literárias, ela buscava conscientizar a sociedade sobre a importância da instrução feminina e a necessidade de justiça e liberdade. Josefina Álvares de Azevedo, por outro lado, era uma defensora ardente dos direitos civis das mulheres e fundadora do jornal “A Família”, uma publicação pioneira que discutia temas como educação, trabalho e participação política. Em suas publicações, Azevedo abordava ideias republicanas e a necessidade de uma sociedade mais justa para as mulheres e os pobres.
Essas mulheres não atuaram diretamente nos eventos do 15 de novembro, mas seus discursos e escritos foram parte da ebulição de ideias que alimentava o desejo de uma nova ordem política e social. Elas influenciaram seus contemporâneos e ajudaram a disseminar ideais de igualdade e progresso.
Educação, imprensa e política: os meios de atuação
Com as limitações da época, as mulheres tinham pouca ou nenhuma representação direta na política. No entanto, muitas encontraram nas artes, na educação e na imprensa as ferramentas para expressar suas visões e demandas por um Brasil mais igualitário. Além de Nísia Floresta e Josefina Azevedo, outras mulheres participaram ativamente do cenário político da época como professoras, escritoras e jornalistas, atuando em redes informais e círculos intelectuais, espaços nos quais podiam questionar e discutir as injustiças da sociedade imperial.
Jornais e revistas se tornaram instrumentos poderosos para essas mulheres, permitindo que ideias republicanas e abolicionistas circulassem entre diferentes camadas sociais. Elas promoviam debates, educavam e influenciavam a opinião pública, tornando-se precursoras da luta pelos direitos das mulheres e da igualdade no país.
Uma nova república: mudanças e desafios
Com a proclamação da República, muitos brasileiros – e brasileiras – acreditaram que o país caminharia para uma maior igualdade e justiça social. No entanto, a promessa de liberdade e de maior participação política demorou a se concretizar para as mulheres. Elas continuaram a enfrentar uma série de limitações e, embora o regime republicano tenha dado fim à monarquia, ele manteve estruturas políticas e sociais que ainda excluíam grande parte da população, principalmente as mulheres.
Mesmo assim, a transição republicana não apagou o papel que essas pioneiras desempenharam. Pelo contrário, com o tempo, as sementes plantadas por Nísia Floresta, Josefina Álvares de Azevedo e outras mulheres continuaram a inspirar novas gerações, que levariam adiante as demandas por direitos civis e igualdade.
Legado e inspiração
Hoje, a presença de mulheres em movimentos sociais, na política e na defesa de direitos civis reflete a continuidade dessa luta que teve início antes mesmo da Proclamação da República. Em 1932, as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto, um marco que teve suas raízes nas ideias e nos debates fomentados por essas pioneiras do século XIX.
A Proclamação da República, embora marcada oficialmente pela ação militar, foi também um período de avanços e questionamentos nos quais as mulheres tiveram participação, ainda que discreta, mas poderosa. Suas vozes ajudaram a formar um novo imaginário social e político, que não apenas clamava por liberdade e progresso, mas vislumbrava uma sociedade mais inclusiva. Esse legado serve de inspiração e lembra que, mesmo em tempos de limitações, as mulheres brasileiras sempre encontraram maneiras de lutar por um país mais justo.