Desvendando os mistérios da Neuroarquitetura e a influência em nossas mentes

Como o design dos espaços pode moldar nossas emoções e comportamentos por meio da neurociência

por Maria Júlia Freitas

Por Christie Silva Schulka

Desde que me aprofundei no campo das neurociências, com ênfase nas disciplinas de marketing e arquitetura me sinto fascinada pela intersecção traçada entre neurociência e design. Como o nome sugere, trata-se de uma disciplina que busca entender como o ambiente construído afeta nosso cérebro e comportamento e, para tanto, essa abordagem multidisciplinar combina conhecimentos de neurociência, psicologia, arquitetura e outras tantas áreas do saber, proporcionando uma visão mais holística da influência do ambiente dentro da experiência humana. A ideia é que, ao entender como a mente responde às diferentes configurações, podemos projetar espaços ainda mais eficazes e agradáveis para se viver e trabalhar.

Ao longo da minha jornada, deparei-me com estudos que destacam a influência direta da neuroarquitetura na saúde mental, uma vez que espaços bem projetados promovem bem-estar, auxiliam na redução do estresse e melhoram nossa produtividade. Por exemplo, a presença de luz natural, a escolha da paleta de cores e a disposição o layout impactam positivamente (ou não) em nossos estados de humor e a cognição. Refletindo sobre minha própria experiência, lembro-me de quando adentrei em um edifício com design biofílico, processo que incorpora elementos da natureza em seu interior. A sensação de calma e vínculo imediato com o ambiente foi notável, desvendando a compreensão tangível sobre como a neuroarquitetura molda nossa percepção.

Nos projetos que abraçam os princípios dessa ciência interdisciplinar, a expressividade dos revestimentos em pisos, paredes e a movelaria desempenha um papel vital na criação de ambientes que não apenas agradam esteticamente, mas nutrem os sentidos e emoções. Assim, tanto em nosso segmento de atuação, como na construção civil em geral do Brasil, algumas marcas são pioneiras em enxergar a importância de analisar os conceitos de neurociência aplicados na arquitetura. O entendimento da ação que o ambiente físico exerce no cérebro humano permite desenvolver um portfólio de revestimentos que transcendem a questão da estética.

Nas palestras que realizo, gosto de salientar que aplicação da neuroarquitetura vai muito além do design. Essa abordagem inovadora incorpora os mais diferentes perfis de projetos como os residenciais, corporativos e espaços públicos como instituições de ensino, hospitais e instalações de saúde, hotéis, comerciais e os espaços de cultura e entretenimento.

A neuroarquitetura implementada para além das residências reflete uma mudança significativa na maneira como os profissionais de design e arquitetura concebem os espaços. À medida que a compreensão da interação entre o ambiente construído e o cérebro humano avança, mais setores reconhecem o potencial que essa ciência exerce para melhorar a qualidade de vida, promover a saúde mental e criar espaços verdadeiramente orientados para o conforto das pessoas.

Entre os tantos aspectos que a envolvem, a biofilia entra no circuito como forma de retratar a afinidade inata que temos com a natureza. Corroborando com o efeito benéfico que senti ao entrar em um edifício que integrou elementos naturais em seu projeto, a incorporação de plantas e recursos naturais não somam apenas no design de interiores, mas está diretamente ligada aos benefícios cognitivos, emocionais e físicos para uma vivência mais saudável e equilibrada.

Agregamos a relação entre cores e sensações para ativar o estado de espírito de quem está presente, e geralmente, tons suaves e naturais resultam em uma atmosfera tranquila e acolhedora, enquanto as cores vibrantes estimulam a criatividade e a energia.

Outro ponto ressalta a busca pelas texturas e a interação tátil, como por exemplo uma granilha formada por diferentes minerais nobres que pode ser aplicada na superfície dos porcelanatos para reagir ao calor durante a queima das peças. Essa fusão gera uma textura 3D realista e fidedigna à referência original e é uma maneira de despertar diferentes sensações. Elementos naturais como madeira, pedra ou vegetação, não apenas proporcionam um visual atraente, mas também nutrem a conexão emocional dos moradores com a natureza.

O futuro da Neuroarquitetura

O campo da neuroarquitetura tem se beneficiado do aumento das pesquisas científicas que exploram a relação entre o ambiente construído e a atividade cerebral. A disponibilidade dessas sólidas informações fortalece a credibilidade dos conceitos da neuroarquitetura e incentiva os profissionais da área a incorporarem essas descobertas em seus projetos. Com base nas apresentações que realizo por todo Brasil, percebo o crescente e ávido interesse que a arquitetura e design de interiores demonstram em elaborar projetos mais humanizados.

Por fim, a visibilidade de projetos que aplicam, com sucesso, os princípios da neuroarquitetura, juntamente com a cobertura midiática positiva, inspira outros profissionais a explorarem essa abordagem. Cases de sucesso destacam como ela pode ser implementada não apenas com vistas à saudabilidade, mas também quando alinhadas aos valores contemporâneos de responsabilidade ambiental.

Nas minhas fontes constantes de estudo, recomendo a leitura de obras como a “Neuroarchitecture: The New Science of How Buildings and Cities Can Make Us Happy” de Michael Arbib e “The Architecture of Happiness” de Alain de Botton. Ambos os livros oferecem uma visão profunda e acessível sobre este campo emergente da neuroarquitetura.

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