Reflexões sobre abuso sexual  

Reflexões sobre uma perspectiva profunda contra essa violência

por Maria Júlia Freitas

Por Sulamita Fonseca

O abuso sexual é uma questão profundamente complexa, cujas ramificações são muitas vezes amplificadas ou minimizadas por nossa cultura. Sou Sulamita Fonseca, terapeuta especializada na análise de padrões comportamentais, e sinto que é crucial discutir a fundo as dimensões desse problema. 

Abuso sexual contra mulheres

Construções social que normatizam o abuso 

 Em muitas culturas, o abuso sexual de meninos por mulheres é frequentemente banalizado ou até ridicularizado. Para alguns, isso pode ser visto como um “privilégio” ou “sorte”, uma perspectiva absolutamente desumana e prejudicial. Esse tipo de visão distorcida pode ser reforçada pela própria família, exacerbando o trauma e o dano psicológico. A vítima, em vez de receber apoio e compreensão, pode ser forçada a carregar o peso de uma percepção errônea que nega a seriedade do seu sofrimento. 

Essa visão errônea tem repercussões devastadoras. Meninos que passam por esses abusos muitas vezes crescem com uma compreensão distorcida dos limites e do consentimento. Eles podem internalizar o abuso como algo positivo ou uma marca de masculinidade, perpetuando um ciclo de violência e exploração. Essa distorção não é apenas uma ferida emocional, mas um mecanismo que pode desencadear um ciclo de comportamento abusivo, alimentando uma sociedade doente e perpetuando o trauma. 

Os números são chocantes: cerca de 40% dos homens e 70% das mulheres já sofreram algum tipo de abuso sexual. No entanto, para muitos homens, falar sobre isso é praticamente impensável. A cultura machista, que exige que “homem não chore” e que seja sempre forte, muitas vezes impede que eles busquem ajuda ou compartilhem suas experiências. Isso deixa muitos carregando um fardo emocional imenso, sem o suporte que precisam para superar o trauma. 

Abuso sexual contra mulheres

Padrão de repetição do abuso  

É crucial compreender que, embora muitos abusadores sejam, na maioria das vezes, vítimas anteriores de abuso, isso não justifica ou minimiza o comportamento deles. Nem todo sobrevivente de abuso se tornará um abusador; no entanto, muitos enfrentam desafios profundos relacionados às suas experiências passadas. Como terapeuta, já ajudei pessoas que, após sofrerem abuso, enfrentam sentimentos perturbadores em relação a crianças, lutando contra impulsos que surgem devido ao trauma passado. Reconhecer que esses sentimentos não definem o comportamento futuro é vital. Com apoio adequado, é possível superar esses desafios. 

A sexualidade de cada indivíduo é moldada por suas primeiras experiências. Imagine que cada pessoa tem um “potinho” de energia sexual formado por volta dos 5 anos de idade. Esse “potinho” é protegido inicialmente para evitar uma exploração descontrolada da sexualidade. Quando uma criança é exposta a estímulos sexuais inadequados, esse potinho é aberto, e a energia começa a circular sem controle. A criança, sem uma compreensão clara do que é certo ou errado, pode então influenciar outras crianças, tornando-se vulnerável a mais abusos. 

A responsabilidade dos adultos é imensa. Se não estiverem atentos e preparados, podem falhar em proteger as crianças de comportamentos prejudiciais, tanto em relação a elas mesmas quanto a outras crianças. É fundamental educar sobre a importância de respeitar as partes íntimas do corpo e de reconhecer comportamentos inadequados. 

Em resumo, o abuso sexual é um tema vasto e multifacetado que precisa ser enfrentado com compreensão e empatia. A conscientização sobre suas dinâmicas e impactos é crucial para lidar com o trauma e evitar a perpetuação de comportamentos prejudiciais. Se você está lutando com os efeitos do abuso sexual ou com impulsos inadequados, busque ajuda. Lembre-se: você foi uma vítima e não precisa se tornar o que o feriu. É possível curar e seguir em frente, criando um futuro mais saudável e respeitoso para todos. 

 

Espero que essas reflexões incentivem uma discussão mais profunda e informada sobre o impacto do abuso sexual em nossas vidas e na sociedade 

 

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