Por Aline Franco
“A vida pede pausa.” Carlos Drummond de Andrade
A gente pausa um tanto da vida por um tanto de coisa! São as tais pausas necessárias – que não tem este nome à toa, convenhamos. Na comunicação chamamos de pausas vantajosas. É o famoso “só vi vantagem!”
Vivi recentemente uma super pausa muito necessária and vantajosa! Abri mão de algumas coisas (boas e relevantes, é verdade) para me dedicar aquilo que é prioridade na prateleira, na minha prateleira. Aprendi que: para as primeiras coisas, o primeiro lugar.
Quais são as suas primeiras coisas?
As minhas estão explícitas, constipo deixar bem claro. Por elas eu pausei, pauso e pausarei, vantajosamente, quantas vezes forem necessárias.
Aprendi, no sufoco, que o botão do pause precisa estar na mão. No caso de emergência, será acionado sem hesitação. Hoje faço isso sem receio, mas nem sempre foi assim. Eu queimava as minhas energias preocupada com o “depois” da pausa – que nunca vem como imaginamos. Expectativa versus realidade. Uma ansiedade que nos consome e não nos permite viver a pausa inteiramente. Para com isso!
O pause é acionado por motivos diversos. Um filho ou um familiar doente. Uma crise no casamento, um problema emocional ou no trabalho. Uma exaustão! Tantos motivos nos pedem pausa…Mas a maternidade, ah… a maternidade é mestre!
A gente pausa a vida por causa de filho sim! Aliás, já vi muitos textos falando sobre esse tema. Inclusive um texto famoso rodou a internet (que agora não lembro de quem) e relatou lindamente sobre essa pausa necessária.
Fato é que a gente pausa. A gente pausa a série, o filme, a leitura, o almoço, até o banho e afins. “Tô com fome, deita comigo, troca a fralda, mãeee, mãeeee…” Dias nada estáticos ou monótonos.
A gente para por toda e qualquer razão que seja prioritária, no momento ou pra sempre. A gente pausa trabalho, lazer, casa em ordem, atividades diversas. As vezes tudo ao mesmo tempo. A gente guarda no bolso algumas coisas e pega na prateleira o que precisa. O que tá no bolso, espera. A gente para pra cuidar dos outros (“nossos outros”) ou da gente. Aliás, deveríamos cuidar mais da gente. Eu sei, eu sei… nem sempre dá tempo. Mas respira, pega um ar, um ventinho, um solzinho, bebe uma água! Somos plantinhas complicadas e também precisamos de cuidados. E as vezes precisamos de pausas curtas, mas funcionais. Uma boa noite de sono, um remedinho pra dor de cabeça, uma boa refeição, e as vezes é só. A gente tá nova em folha!
Mas um segredo, ó: não dá pra fazer tudo! Não dá pra abraçar o mundo! Mas da pra abraçar o nosso mundo! Sem negligenciar ou terceirizar isso. Sem romantizar também – porque eu sei que é difícil, ô!
Falando em difícil… sinto que fui engolida pelo primeiro semestre deste ano. Uma vida aconteceu em 6 meses. Filho começando na escola e doenças mil. Nas crianças e em nós. Foi um tempo muito desafiador e diferente do “planejado”. Pausei tudo e mais um pouco porque foi necessário. Aliás, estou gerando muitas expectativas para o novo semestre. É chegado o tempo de retomar certas coisas, mas sei que expectativa e realidade nem sempre se cruzam.
Certa vez, ouvi de uma pessoa a frase: “não tenho passarinho pra dar água, não sei como é!” O contexto era uma mãe chegando atrasada no trabalho por causa da filha doente. A mãe era eu. Pois bem. Eu realmente e definitivamente (e graças a Deus) tenho passarinhos para dar água, colo, remédio, amor e mais um tanto de coisa! A maior missão da minha vida. Graça de Deus!
Por eles, pauso meus desejos, necessidades, projetos, afazeres mil. “Já volto, galera!”, digo em voz alta. As vezes, cuido de mim para cuidar deles (lembro da plantinha). Mas em alguns momentos, nem dá tempo. Vai o que tem! A gente faz a tal pausa necessária pro que der e vier. Depois enche o peito de fôlego e retoma! E pausa de novo, se preciso. E volta como e quando der! Hoje sem expectativas irreais.
Nada é pra sempre. Nem o tempo fazendo, nem o tempo pausado. Nem o bebê, nem a criança, nem o adolescente. Nem a gente do jeito que é. O tempo é tão belo e cruel… e o danado passa! Isso assusta e conforta. A pausa não é eterna. São hiatos no meio do caminho, suficientes para marcar as nossas vidas e daqueles que nos cercam.