Deise Moura dos Anjos, 42 anos, ganhou fama nacional em dezembro de 2024. Mas não de uma boa forma. Ela foi presa por ter tentado envenenar e matar a própria sogra com um bolo envenenado por arsênio. Na véspera do Natal, a família de Zeli dos Anjos, sogra de Deise, se reuniu para um café da tarde. Sete pessoas da família comeram o bolo envenenado. Três morreram. Zeli sobreviveu e Deise foi para a cadeia. Presa temporariamente em 5 de janeiro deste ano, ela foi encontrada morta em sua cela na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, no Rio Grande do Sul, na manhã de 13 de fevereiro.
A despeito de outros pormenores do crime, chama a atenção que, segundo a Polícia Civil, Zeli dos Anjos, a sogra, era o principal alvo de Deise. De acordo com as investigações, a relação de sogra e nora sempre foi conflituosa. Casada com Diego dos Anjos, filho de Zeli, desde 2001, Deise foi descrita como uma pessoa problemática e de comportamento instável. Segundo a sogra, Deise teria um “ciúme doentio” da sogra, a ponto de imitar seu jeito de vestir.
O caso de Deise dos Anjos é extremo, mas exemplifica o relacionamento nem sempre saudável entre noras e sogras – sobretudo na América Latina, onde as sogras costumam ser matriarcas fortes e muito presentes na vida dos filhos, o que pode gerar rivalidade com noras e genros. A intensidade emocional é marcante, tornando-as superprotetoras e, às vezes, dramáticas. Muitas testam os parceiros dos filhos para garantir que são “bons o suficiente”. E é aí que os conflitos podem se intensificar.
Segundo Carolline Nunes Lopes, professora universitária no Curso de Psicologia da Nova UBM e mestre em Psicologia pela UFRJ, é comum que haja conflitos em qualquer relação humana. “Entre sogras e noras não seria diferente. Por isso é importante avaliar cada situação”, pontua. A psicóloga diz que, quando os filhos encontraram um parceiro ou uma parceira, muitas sogras sentem que perderam um papel central na vida dos rebentos. A nora, por outro lado, pode sentir que precisa conquistar esse espaço. Os choques culturais e educacionais geram frustrações, especialmente em relação à criação dos filhos e papéis no casamento.
“Algumas sogras enxergam a nora como uma ‘intrusa’, enquanto algumas noras podem sentir que estão sempre sendo julgadas. Se o casal não estabelece fronteiras desde o início, a sogra pode se sentir no direito de opinar excessivamente, gerando atritos”, acrescenta Carolline, lembrando que algumas sogras podem acabar projetando frustrações da própria vida no casal, ao passo em que noras podem trazer traumas de relações maternas complicadas.
Tóxico
Carolline Nunes diz que, embora seja muito comum atualmente, a expressão ‘relacionamento tóxico’ deve ser usada com cautela para que não seja banalizado. “Nas relações humanas é importante construir junto com o outro. Há alguns sinais de alerta para se colocar limites, como a sogra ou a nora desqualificar a outra sem motivo real, apenas para diminuir. Uma das partes tenta afastar o marido/filho da outra, usando culpa ou manipulação emocional”, explica a psicóloga. Os sinais se mostram quando uma das partes – ou ambas –começa a apresentar ansiedade, estresse excessivo ou até sintomas depressivos por conta da relação. E se o casal passa a brigar constantemente por interferências da sogra, afetando o casamento.
O papel do outro
Ainda de acordo com a especialista, o papel do marido é imprescindível na resolução de conflitos. Se ele não define limites claros, diz, pode reforçar o ciclo de toxicidade, pois evita conflitos diretos e acaba permitindo invasões emocionais. “Se ele tomar partido, pode agravar ressentimentos, seja entre mãe e esposa ou dentro do próprio casamento”, alerta Carolline.
“Mas, se assume o papel de mediador com postura firme, estabelecendo regras e garantido respeito mútuo, pode minimizar conflitos e ajudar a construir uma relação mais equilibrada”, completa.
Limites saudáveis
Para a psicóloga Carolline Nunes, as mulheres podem adotar algumas estratégias simples para garantir um bom relacionamento com as sogras e, consequentemente, um bom relacionamento familiar. “Colocar limites é essencial para todas as relações. Precisamos expressar de forma clara e direta o que é confortável e o que não é, sem agressividade. Encarar a relação como uma construção e não uma disputa de poder”, salienta, acrescentando ser importante evitar entrar em provocações e se afastar de discussões desgastantes. “É importante buscar pontos em comum para fortalecer a relação de forma natural. Conversar com o marido e, se necessário, buscar orientação profissional para lidar com situações mais complexas”, conclui.