Diário Delas – A jornada de trabalho no regime 6×1, em que o profissional trabalha seis dias consecutivos e descansa apenas um, é uma realidade para milhões de brasileiros, especialmente em setores como comércio, indústria e serviços. No entanto, quando olhamos para a experiência das mulheres sob essa dinâmica, a conversa ganha nuances importantes, refletindo desafios específicos ligados à conciliação entre vida profissional, pessoal e familiar.
Para muitas mulheres, a carga de trabalho do 6×1 vai além do que acontece dentro do expediente. Ainda que avanços tenham sido feitos no equilíbrio de responsabilidades domésticas, muitas delas continuam assumindo a maior parte das tarefas em casa, como cuidar dos filhos, organizar a rotina do lar e gerenciar as demandas emocionais da família.
Isso significa que o único dia de descanso frequentemente não é suficiente para recarregar as energias. Em vez disso, é preenchido com pendências domésticas e, muitas vezes, ainda há a sensação de culpa por não conseguir atender a todas as expectativas sociais e profissionais.
Saúde mental e bem-estar
A rotina intensa do 6×1 também afeta a saúde mental das mulheres. A ausência de pausas regulares e adequadas pode levar a um estado constante de exaustão física e emocional, contribuindo para o aumento do estresse, ansiedade e até da síndrome de burnout.
Além disso, a falta de tempo para atividades de lazer, autocuidado ou socialização prejudica a qualidade de vida. Muitas mulheres relatam que o regime de trabalho limita até mesmo a possibilidade de construir conexões mais profundas com amigos, familiares e até consigo mesmas.
O desafio da maternidade e do cuidado
Para mães, o 6×1 apresenta desafios ainda mais significativos. A logística de organizar o cuidado dos filhos durante a semana, especialmente em famílias com poucos recursos ou sem uma rede de apoio próxima, é um ponto crítico. Escolas e creches costumam seguir calendários de segunda a sexta-feira, o que muitas vezes força mulheres a gastarem uma parcela significativa de seu salário com babás ou outras soluções temporárias.
A busca por soluções e direitos
O regime 6×1 está previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas a legislação também garante direitos como intervalos para descanso, repouso semanal remunerado e horas extras. No entanto, muitas mulheres enfrentam dificuldades para fazer valer esses direitos em locais de trabalho onde a cultura da exaustão é normalizada.
Além disso, há um crescente debate sobre a necessidade de flexibilizar jornadas de trabalho, incluindo alternativas como escalas 5×2, turnos reduzidos e possibilidade de trabalho remoto em alguns casos. Essas mudanças poderiam beneficiar não apenas as mulheres, mas todos os profissionais que enfrentam os desafios de uma rotina tão intensa.
Reflexões e perspectivas
Enquanto as condições do mercado de trabalho não mudam, muitas mulheres estão repensando suas prioridades e explorando alternativas de carreira que ofereçam maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Movimentos femininos e redes de apoio também têm sido essenciais para trazer visibilidade ao tema e pressionar por melhorias nas condições de trabalho.
O desafio, no entanto, é coletivo. A transformação do modelo 6×1 para algo mais equilibrado exige não apenas mudanças legislativas, mas também culturais, em que empregadores e sociedade reconheçam que o bem-estar das mulheres no mercado de trabalho é um pilar fundamental para o progresso econômico e social.
A escala 6×1, embora comum, precisa ser analisada sob a perspectiva do impacto que gera nas mulheres, especialmente em termos de saúde mental, qualidade de vida e equidade de gênero no mercado de trabalho. O debate sobre jornadas mais humanas e flexíveis é urgente e necessário para construir um futuro em que todas possam prosperar — no trabalho e na vida.